A peça “Suddenly Last
Summer” explora a verdade e a mentira, a paranóia e o facto de nós, humanos,
usarmos as pessoas para atingir os nossos fins e, tal como os outros seres
vivos (plantas e animais), devorarmo-nos uns aos outros. A personagem Sebastian
Venable pode ser revista como uma representação parcial de Tennessee Williams.
Por ambos serem homossexuais, há quem considere que a peça é sobre
homossexualidade, o que é uma visão bastante redutora. Apenas acontece que
existe uma personagem assim no centro da história. Também há quem estabeleça
uma relação autobiográfica entre a irmã de Williams ter ficado incapacitada
após uma lobotomia e de se considerar fazer o mesmo à personagem da peça,
Catherine.
Todo o
relato sobre a história de como Sebastian morreu, contado por Catherine, leva-nos
a colocar múltiplas questões no que toca à sua veracidade. A razão pela qual
tal história, pouco flexível, nos parece falsa remonta às características da
personagem – a sua relatada insanidade mental e os seus maus comportamentos
descritos no texto – e ao próprio texto, isto é, a maneira como está escrito.
Quando Catherine conta a história transmite uma ideia de incerteza, confusão e
até exagero, o que é visível através de comparações que faz para transmitir uma
imagem fiel aos acontecimentos que relata.
Para corroborar
o ponto de vista da verdade, no que toca à morte de Sebastian, apresentamos
quatro pontos: primeiro, Mrs. Venable poderia ter tido um ataque de ciúmes, por
Sebastian a ter trocado por Catherine, acusando-a injustamente pela morte do filho, fazendo com que a
história dela parecesse impossível; segundo, o Doutor “Sugar” foi chamado como
figura de autoridade e de especialista para interceder por Mrs. Venable, acabando
por fazer o contrário — intercedendo por Catherine —fazendo uma análise dela e
chegando à conclusão de que ela poderia estar a dizer a verdade, até porque
mesmo ao administrar a Catherine o “soro da verdade”, esta mantém a sua
história; terceiro, o canibalismo em relação à morte de Sebastian não é assim
tão improvável pois tratavam-se de pedintes, crianças de rua que podem ter
cedido ao seu instinto de sobrevivência, atacando Sebastian por ele lhes ter
dado dinheiro, vendo-o como uma fonte de sustento; e, quarto, Catherine sempre
mostrou que amava Sebastian e sentia uma grande preocupação por ele, não
fazendo sentido sujeitar-se a toda a dor que a morte do mesmo lhe causou só para
contar uma mentira, mas sim para contar o que realmente aconteceu e que nada o
mudaria.
As principais semelhanças entre a
peça e o filme remetem para a parte onde Violet, ao passear no jardim com o
doutor, fala sobre as plantas e toda a alegoria de os Humanos e os seres vivos
se alimentarem uns dos outros para poderem sobreviver. Outra semelhança está no
clímax, onde Catherine finalmente conta a “verdade”.
As principais diferenças
encontram-se no início e no fim. Na peça, o início é uma conversa entre Violet
e Doutor “Sugar”. Já no filme, a cena começa no hospital, onde Doutor “Sugar”
está a realizar uma cirurgia – a mesma cirurgia que Violet quer que se realize
na sua sobrinha. Outra diferença é no
final, quando se faz a “reunião” com Catherine para que ela diga a verdade – a
maneira como se desenrola essa parte é diferente. E, por fim, quando Catherine
acaba o seu monólogo (sobre a verdade), Mrs Venable pede ao doutor para tirar
essa história da cabeça dela, dizendo que é tudo mentira. Já no filme,
Violet ouve o que Catherine diz e escreve tudo o que Catherine diz como sendo o
último poema de Sebastian.
Analisando
alguns aspectos de um excerto da última cena da peça (pág. 158, inicia-se em
“Catherine: - Waiters, police, and others (…)”), quando Catherine diz “(...)
flock of featherless little black sparrows, (...)”,,há uma alusão ao que
Sebastian testemunhou nas ilhas Encantadas; pode-se dizer que é como que uma
comparação também entre o que aconteceu lá e o que sucedeu a Sebastian aquando
da sua morte. Na altura, Sebastian julgou que tinha visto Deus a atuar na
natureza, sendo possível que no caso da sua morte também seja considerado um
ato de Deus, acabando com o seu sofrimento. Catherine utiliza verbos como “will
not”, e “could” (“... and this you won’t believe, nobody has believed it,
nobody could believe it, ...”) para se referir à morte de Sebastian, existindo,
portanto, uma alteração verbal ao longo da frase, estando entre a certeza e a
possibilidade. Na oração “(...) that looked like a big white-paper-wrapped
bunch of red roses had been torn, thrown, crushed!” podemos ver uma comparação entre o corpo
destruído de Sebastian e um ramo de flores esmagado, nomeadamente rosas para
acentuar o estado do seu corpo, coberto de sangue. No fim desta mesma frase,
temos a sequência “torn”, “thrown” e “crushed” que enfatiza a imagem e onde
podemos detetar uma aliteração da letra “r”, remetendo aos sons do ataque ao
corpo de Sebastian e mesmo ao som do papel (que embrulharia as rosas) a ser
esmagado.
Catherine diz que Sebastian falava das
pessoas como se fizessem parte de uma ementa. Assim, Sebastian recebe o seu
castigo – é devorado pelos rapazes que,
anteriormente, tinha devorado – na praia “Cabeza de Lobo”. O canibalismo
representado no final da peça e do filme pode ter um sentido metafórico e não
literal. No filme, existe outro argumento para a irrealidade da história de
Catherine - que as suas visões sobre o
canibalismo poderiam surtir todas da sua mente perturbada. O aparecimento de
algumas imagens surreais – como, por exemplo, o equeleto com asas no jardim de
Sebastian aparecer na rua – podem sugerir esta possibilidade.
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