“Daddy”, é composto por
16 estrofes. O poema incide sobre a relação da poeta com o pai doente. Dada a
inscrição da obra de Sylvia Plath numa poesia confessional, é possível
estabelecer uma associação autobiográfica com a relação da criança Sylvia com o
seu próprio pai, Otto Plath, sabendo nós que a sua morte prematura foi marcante
para a poeta.
Ao longo do poema o
leitor é confrontado com sentimentos de tristeza e incómodo, devido à forma
violenta com que a voz poética interpela o pai: “ you do not do, you do not do”.
Assim começa a primeira estrofe do poema, o sujeito poético compara o pai a um sapato
preto e afirma que se sente como um pé que vive dentro dele: “black shoe/ in
which I have lived like a foot”, onde se sujeita a uma intimidação que não a
deixa sequer respirar ou espirrar. A poeta insiste que precisa de o matar
(refere-se ao pai como “Daddy” o que nos dá a entender que ainda se vê como uma
criança), mas ele morre antes que ela o consiga fazer.
Usa a metáfora “bag full
of God”, comparando o pai ao dedo do pé preto de uma estátua.
A poeta aparenta pouco
conhecer as suas raízes. Sabe que o seu pai viveu numa cidade polaca que foi
destruída por “wars, wars, wars”, mas sabe que existem imensas cidades com o
mesmo nome, não conseguindo descobrir qual delas é a cidade do seu pai: “I
never could tell where you/ Put your foot, your root”.
A voz poética desabafa
sobre nunca conseguir falar com o seu pai e como, mesmo antes de conseguir,
pensava que todos os alemães fossem como ele e considerava a língua alemã
“obscene”. Coloca-se no lugar de vítima, comparando-se a um judeu que é
retirado de um campo de concentração. Começa mesmo a falar e a sentir-se como
um judeu em diversas maneiras. Questiona-se se poderá ser judia devido às suas
semelhanças ao povo cigano: “with my gypsy ancestress and my weird luck/ (…) I
may be a bit of a jew”.
Se antes o pai era visto
como Deus, passa a ser encarado como uma grande suástica preta em que nada
consegue passar. Para a poeta, as mulheres adoram o tipo de homem com as
características do seu pai: “ every woman adores a fascist/ the boot in the
face, the brute/ Brute heart of a brute like you” (há aqui uma clara alusão à
co-dependência nas relações de violência masculina sobre as mulheres, violência
que é acentuada pelas gradação sapato / bota, e pela rima de “boot” com a
repetição de “brute”).
A figura do pai é recordada
em frente a um quadro negro com “a cleft in your chin instead of in your foot”
o que é uma referência ao Diabo; a sombra negra do pai repercute-se num
imaginário de mitos e lendas personificando o mal; o pai pode ser o caçador dos
contos infantis: “bit my pretty red heart in two.”
A poeta refere a morte
do pai como tendo ocorrido aos dez anos, e afirma que aos vinte tentou
juntar-se a ele na morte. Esta tentativa falhou, o que a fez perceber da
maldição que trazia com ela- fez do pai um modelo e procurou alguém igual a
ele. Nesta estrofe, a poeta parece
referir-se a uma relação conjugal (convidando à extrapolação autobiográfica
sobre a vida da autora com Ted Hughes): “ and a love of the rack and the screw/
and I sad I do, I do”. E é por isso que na estrofe seguinte ela diz que matou
dois homens em vez de um. Compara o homem da sua idade adulta a um vampiro
recordando-se que ele bebeu do seu sangue durante sete anos (novo transporte
para imaginário lendário da maldade).
Diz-lhe que finalmente
pode descansar em paz. Há uma estaca no coração
dele e quem não gostava dele celebra agora a sua morte “There’s a stake in your
fat balck heart/ And the villagers never liked you. / They are dancing and
stamping on you.”
O poema termina, anunciando
“ Daddy, daddy, you bastard, I’m through”, ou seja, o desabafo sobre a relação
difícil, incluindo a paradoxal agressão verbal ao pai (tornando irónico o
dimunitivo carinhoso “Daddy”), conduzem à libertação da voz poética.
É certamente um poema
complicado de ler, devido à sua violência e invocação de sofrimento dos judeus
e da segunda Guerra Mundial, um dos piores capítulos da história da humanidade.
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