É
impossível negar que os estados sulistas baseavam a sua economia na
escravatura. Mas nem todos possuíam escravos, muitos eram a favor da liberdade
e dos direitos decretados pela Declaração de Independência. Assim, durante a
guerra a bandeira da confederação não representava apenas a luta pelo direito à
escravidão, mas sim o direito a liberdade. Muitos levantaram-se para lutar para
defender as suas famílias de imposto elevados que o Norte queria implementar
nos estados do sul. Muitos lutaram contra a opressão do Norte. Infelizmente, o
que perdurou da Guerra de Secessão foi apenas que os estados sulista lutaram
pelo seu direito a escravatura.
É
fácil perceber, porém, a negatividade associada à Bandeira da Confederação, visto
esta ter sido apropriada pelo Ku Klux Klan, grupo de ódio formado após a
derrota do sul, que perseguia indivíduos de raça negra e não só, também
assassinava indivíduos de raça branca que tivessem ligações democráticas. A
derrota, ainda assim, trouxe algo de bastante positivo ao sul, um crescimento
de influência afro-americana e da sua cultura no país, com o nascimento do
Jazz, do Blues e do Gospel - e mais tarde o Rap. Onde temos artistas como Ray
Charles a ter um tema seu “Georgia on My Mind” como Hino de um Estado sulista.
Por outro lado, temos filmes como The
Easy Rider, que mostra a busca pela “America the beautiful” e os valores
tradicionais típicos do Sul, apenas para encontrar Amerikkka, onde os valores
se encontram corrompidos com imagens de zonas outrora dedicadas a agricultura,
destruídas por complexos industriais.
Outro
lado importante deste engrandecimento cultural dos estados sulistas foi o
desenvolvimento literário que até então era mantido através da oralidade.
Estados como o Luisiana, que mantinham um elevado valor de comunidade,
desenvolveram escolas e igrejas para afro-americanos e não só indivíduos de
raça branca. Este crescimento literário deu origens a romances como o The Invisble Man (Ralph Ellison, 1952), que conta a história de um
afro-americano e a sua demanda para obter educação, ou escritores como Harper
Lee, que no seu livro How to Kill a
Mockingbird (1960) demonstra a luta para manter os valores tradicionais
familiares sulistas, explorando não só a situação dos afro-americanos como a
dos párias da sociedade, denominados White Trash.
Contra (Maria Inês, Joana, Camille)
Depois de
considerar o passado e a situação actual dos estados sulistas, defendemos que
não pode existir redenção para o Sul dos EUA. Ao basear o seu desenvolvimento
económico numa instituição como a escravatura, milhões de afro-americanos foram
condenados a uma vida miserável de trabalhos forçados e humilhações diárias,
sendo-lhes negada uma educação e identidade pessoal. Existem diversas obras
literárias que relatam os horrores da escravatura como Adventures of Huckleberry Finn de Mark Twain, Narrative of the Life of Frederick Douglass de Frederick Douglass ou
“Slavery’s Pleasant Homes” de Lydia Maria Child.
A tolerância à escravatura e
tentativa de justificação desta instituição baseada em argumentos económicos e
religiosos moldou a mentalidade sulista perpetuando e naturalizando uma cultura
de descriminação e violência, simpatizante com os ideais racistas que duram até
aos dias de hoje e deram origem ao Ku Klux Klan e às leis de Jim Crow. Estas
foram baseadas na máxima “separate but equal”, legalizando a segregação racial
e impedindo a comunidade afro-americana de exercer o seu direito ao voto,
acabando por diminuir as suas oportunidades de emprego, educação e acesso aos
cuidados de saúde essenciais.
Como resposta literária, W. E. B. Du
Bois publica The Souls of Black Folk
onde expõe as dificuldades sentidas pelo afro-americano na formação da sua
identidade resultante de complexos processos de transculturação e opressão
cultural. A “double-consciousness” por ele experienciada é consequência,
segundo Du Bois, de uma tentativa de conciliação das suas origens africanas com
a sua cultura presente, ao mesmo tempo que procura definir-se numa sociedade
cujo olhar dominante é incapaz de o reconhecer como indivíduo.
O desenvolvimento de uma sociedade
patriarcal hierarquizada, com a criação de famílias que procuravam inserir-se
numa linhagem aristocrática forjada, entra em conflito com o individualismo
americano e o conceito do “self-made man”, contrariando a própria Declaração da
Independência (“that all men are created equal”).
O desejo de secessão do Sul que
perdura até aos dias de hoje em estados como o Texas, com o “Texas Nationalist
Movement”, apenas enfraquece os Estados Unidos, ameaçando a união de todo o
país, um conceito que tem sido essencial à vida na América, presente na própria
Constituição (“We the People”) e em diversos discursos presidenciais.
Por fim, os estados sulistas
diminuíram a América aos olhos do mundo, impedindo-a de cumprir um dos seus
objectivos principais desde a sua génese, o de se tornar um exemplo a seguir. A
defesa da escravatura e os actos de violência e descriminação cometidos no Sul
contrariam o objectivo estabelecido por Winthrop, “For we must consider that we
shall be as a city upon a Hill. The eyes of all people are upon us.”
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