Saturday, 12 March 2016

Que redenção para o Sul dos EUA?

Pró (Luís, Helena, Daniel)


É impossível negar que os estados sulistas baseavam a sua economia na escravatura. Mas nem todos possuíam escravos, muitos eram a favor da liberdade e dos direitos decretados pela Declaração de Independência. Assim, durante a guerra a bandeira da confederação não representava apenas a luta pelo direito à escravidão, mas sim o direito a liberdade. Muitos levantaram-se para lutar para defender as suas famílias de imposto elevados que o Norte queria implementar nos estados do sul. Muitos lutaram contra a opressão do Norte. Infelizmente, o que perdurou da Guerra de Secessão foi apenas que os estados sulista lutaram pelo seu direito a escravatura.
É fácil perceber, porém, a negatividade associada à Bandeira da Confederação, visto esta ter sido apropriada pelo Ku Klux Klan, grupo de ódio formado após a derrota do sul, que perseguia indivíduos de raça negra e não só, também assassinava indivíduos de raça branca que tivessem ligações democráticas. A derrota, ainda assim, trouxe algo de bastante positivo ao sul, um crescimento de influência afro-americana e da sua cultura no país, com o nascimento do Jazz, do Blues e do Gospel - e mais tarde o Rap. Onde temos artistas como Ray Charles a ter um tema seu “Georgia on My Mind” como Hino de um Estado sulista. Por outro lado, temos filmes como The Easy Rider, que mostra a busca pela “America the beautiful” e os valores tradicionais típicos do Sul, apenas para encontrar Amerikkka, onde os valores se encontram corrompidos com imagens de zonas outrora dedicadas a agricultura, destruídas por complexos industriais. 
Outro lado importante deste engrandecimento cultural dos estados sulistas foi o desenvolvimento literário que até então era mantido através da oralidade. Estados como o Luisiana, que mantinham um elevado valor de comunidade, desenvolveram escolas e igrejas para afro-americanos e não só indivíduos de raça branca. Este crescimento literário deu origens a romances como o The Invisble Man (Ralph Ellison,  1952), que conta a história de um afro-americano e a sua demanda para obter educação, ou escritores como Harper Lee, que no seu livro How to Kill a Mockingbird (1960) demonstra a luta para manter os valores tradicionais familiares sulistas, explorando não só a situação dos afro-americanos como a dos párias da sociedade, denominados White Trash.     




Contra (Maria Inês, Joana, Camille)
Depois de considerar o passado e a situação actual dos estados sulistas, defendemos que não pode existir redenção para o Sul dos EUA. Ao basear o seu desenvolvimento económico numa instituição como a escravatura, milhões de afro-americanos foram condenados a uma vida miserável de trabalhos forçados e humilhações diárias, sendo-lhes negada uma educação e identidade pessoal. Existem diversas obras literárias que relatam os horrores da escravatura como Adventures of Huckleberry Finn de Mark Twain, Narrative of the Life of Frederick Douglass de Frederick Douglass ou “Slavery’s Pleasant Homes” de Lydia Maria Child.
            A tolerância à escravatura e tentativa de justificação desta instituição baseada em argumentos económicos e religiosos moldou a mentalidade sulista perpetuando e naturalizando uma cultura de descriminação e violência, simpatizante com os ideais racistas que duram até aos dias de hoje e deram origem ao Ku Klux Klan e às leis de Jim Crow. Estas foram baseadas na máxima “separate but equal”, legalizando a segregação racial e impedindo a comunidade afro-americana de exercer o seu direito ao voto, acabando por diminuir as suas oportunidades de emprego, educação e acesso aos cuidados de saúde essenciais.
   Como resposta literária, W. E. B. Du Bois publica The Souls of Black Folk onde expõe as dificuldades sentidas pelo afro-americano na formação da sua identidade resultante de complexos processos de transculturação e opressão cultural. A “double-consciousness” por ele experienciada é consequência, segundo Du Bois, de uma tentativa de conciliação das suas origens africanas com a sua cultura presente, ao mesmo tempo que procura definir-se numa sociedade cujo olhar dominante é incapaz de o reconhecer como indivíduo.
  O desenvolvimento de uma sociedade patriarcal hierarquizada, com a criação de famílias que procuravam inserir-se numa linhagem aristocrática forjada, entra em conflito com o individualismo americano e o conceito do “self-made man”, contrariando a própria Declaração da Independência (“that all men are created equal”).
  O desejo de secessão do Sul que perdura até aos dias de hoje em estados como o Texas, com o “Texas Nationalist Movement”, apenas enfraquece os Estados Unidos, ameaçando a união de todo o país, um conceito que tem sido essencial à vida na América, presente na própria Constituição (“We the People”) e em diversos discursos presidenciais.
   Por fim, os estados sulistas diminuíram a América aos olhos do mundo, impedindo-a de cumprir um dos seus objectivos principais desde a sua génese, o de se tornar um exemplo a seguir. A defesa da escravatura e os actos de violência e descriminação cometidos no Sul contrariam o objectivo estabelecido por Winthrop, “For we must consider that we shall be as a city upon a Hill. The eyes of all people are upon us.”

 

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