Sunday 11 March 2018

Debate Wed 14 - Morality and Political Correctness

A questão do discurso de ódio é complicada e tem nuances, mas uma definição comum é a seguinte: "determinada mensagem que busca promover o ódio e incitação a discriminação, hostilidade e violência contra uma pessoa ou grupo em virtude de raça, religião, nacionalidade, orientação sexual, gênero, condição física ou outra característica". Mesmo com as pontas soltas que esta definição nos deixe, usando-a como base, conseguimos identificar certos tipos de discurso como claramente inseridos nesta categoria. 
A questão do discurso de ódio na arte, e na literatura em particular, já foi discutida inúmeras vezes. A noção de que na arte, esta problemática não se deveria colocar, é amplamente aceite. Afinal, as vozes que proferem os discursos na literatura são vozes fictícias, de personagens, direccionadas a outras personagens, também fictícias, mantendo sempre separação entre o autor, pessoa real, e as vozes da obra, personagens imaginárias. Há que ter sempre em atenção que as posições tomadas em trabalhos fictícios não reflectem necessariamente as posições do autor, e, da nossa parte, não há dúvidas disto. As obras literárias podem e devem ser lidas de forma crítica e, quando oportuno, os leitores podem e devem reconhecer e reflectir sobre o que há de problemático e ofensivo nelas. Mas, sendo trabalhos artísticos, de ficção, não é justificável que sejam censuradas.
Nesse caso, porque estamos nós a criticar o conteúdo das obras dos autores da Beat Generation? A quê, exactamente, nos opomos?
Vamos focar-nos especificamente em On The Road, de Jack Kerouac. Uma das questões que a obra coloca é a sua legitimidade enquanto trabalho literário. Tanto pela forma como foi escrita como pelo seu conteúdo, há quem defenda que On The Road não é ficção.
Esta questão não foi até hoje respondida. Mas, ficção ou não, é um facto que On The Road relata acontecimentos reais na vida de Kerouac, com descrições de pessoas reais, e até a utilização de nomes reais, no caso do scroll original.
Assim sendo, as descrições machistas e ofensivas que encontramos das mulheres em On The Road são proferidas não sobre personagens imaginárias, mas sobre pessoas que reais e susceptíveis de serem impactadas pelas palavras sobre elas escritas. Parece-nos, então, justo afirmar que o discurso preconceituoso em On The Road se enquadra na categoria de discurso de ódio e deve ser tratado como tal.

Maria Kopke
Rita Silva

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