Wednesday, 25 May 2016

“People were always getting ready for tomorrow. I didn’t believe in that. Tomorrow wasn’t getting ready for them. It didn’t even know they were there.”


           A model commentary to Cormac McCarthy's quotation (The Road, 2007), courtesy of Maria Inês.

 O excerto apresentado pertence a uma fala da personagem Ely num momento em que este questiona duas noções bastante importantes na literatura e pensamento americanos que se encontram interligadas. Primeiro, o conceito do “amanhã/manhã” como espaço de recomeço e possibilidade. Segundo, a ideia de que cada indivíduo no espaço americano importa e que pode realmente fazer a diferença, “It didn’t even know they were there.” Desta forma, dois importantes conceitos são questionados através da personagem Ely.
            Esta desconfiança e questionamento de grandes narrativas, típicos do pós-modernismo, podem ser encontrados em outras obras da literatura pós-modernista americana como, por exemplo, “This Property is Condemned” de Tennessee Williams. Nesta obra, o tema da mobilidade e fluidez social, da moralidade e inocência sulistas, e dos fortes valores familiares são questionados ao sermos brevemente apresentados a Willie e à história da sua família, condenada a viver numa propriedade onde qualquer oportunidade de mudança acaba frustrada.
            Um outro exemplo, em que a Verdade é relativizada, é no conto “Recitatif” de Toni Morrison. Onde a narrativa é condicionada pela percepção de quem a constrói, mostrando que não existe uma única Verdade, mas diversas Verdades. Neste conto, o mesmo evento é relatado cinco vezes distintas, sempre de forma diferente, acrescentado ou alterando certos detalhes, demonstrando como o passado é apenas uma narrativa construída subjectivamente.
            Por fim, um outro exemplo literário, que explicitamente questiona as narrativas construídas em volta do passado, é o texto “After Life” de Joan Didion. Nesta “memoir”, Didion expõe a natureza duvidosa/incerta do passado que constrói, colocando o leitor numa posição em que este(a) se encontra consciente de que a narrativa apresentada é uma construção profundamente marcada pela experiência emocional da autora dos eventos relatados. Esta “re-evaluation of and a dialogue with the past in the light of the present” (Hutcheon, 1988) é tornada clara no texto de Didion através da utilização de expressões de modalização e metalinguagem, “I considered adding these words” (Didion, 2005).
            Para concluir, no excerto apresentado, o mesmo questionamento proveniente de uma atitude de relativização e desconfiança perante grandes narrativas pode ser encontrado, pois duas importantes noções para a construção da América como conceito estão a ser questionadas. Tal como nas três obras já mencionadas, Cormac McCarthy utiliza o conceito do “amanhã” para o subverter, assim como desacredita a ideia da excepcionalidade e potencialidade do indivíduo nos EUA.
Nota: O excerto citado de Linda Hutcheon provém da sua obra A Poetics of Modernism (1988).

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