Subiu
a estrada que dava para a casa e, quando conseguiu voltar a ver o
carro, reparou numa mulher velha, de pé no alpendre, de braços cruzados
diante do peito, como se já a esperasse.
Twyla hesitou por um breve momento, mas prosseguiu a marcha. Parou diante do baixo portão de ferro.
- Bom dia - acenou à mulher velha.
A mulher continuou a olhar para ela, sem proferir uma palavra.
Uma jovem da sua idade surgiu detrás do carro e encaminhou-se na direcção do portão, para o abrir.
- Olá - A jovem estendeu-lhe uma mão. - O meu nome é Roberta. E tu, como te chamas?
- Twyla. - Apertou-lhe a mão.
- Entra, Twyla. Sê bem-vinda.
Twyla passou para lá do portão, sempre de olhos postos ou no carro ou na mulher velha.
- Queres beber algo? - perguntou Roberta.
- Sim, por favor.
Twyla
seguiu Roberta até à casa e, quando passou pela mulher velha, esta
continuava a olhar na direcção do portão, com uma enorme Bíblia presa
por debaixo do braço.
A porta de entrada da casa dava
directamente para a cozinha, onde se encontrava, no centro, uma pequena
mesa de madeira e duas cadeiras.
Roberta fez um gesto para que Twyla se sentasse e foi preparar café.
- Conta-me, Twyla - disse Roberta, pousando uma chávena de café na frente de Twyla. - O que te traz por cá?
- Quero viajar.
Roberta riu-se.
- Estás interessada no carro?
- Eu não disse isso.
- De certeza? Foi isso que percebi.
- Percebeste mal. Não foi isso que eu disse.
- Então, o que disseste?
- Não quero ficar aqui.
- Não queres ficar aqui. Porque não? Esta casa tem espaço para mais uma.
- Não. Eu não quero ficar aqui, em Nova Iorque.
- Não queres ficar em Nova Iorque.
- Não.
- Então queres ficar nesta casa.
- Não.
- Então queres ficar com o carro.
- Sim. Não!
- Toda a gente quer um carro. Toda a gente quer sair daqui.
- Não sei.
- Mas sei eu. Eu também quero sair daqui.
- Mas tu não és toda a gente.
- Mas sou alguém. E isso chega.
Ficaram em silêncio por um momento.
- Quem é aquela mulher? - Twyla apontou para a porta, atrás de si.
- É a minha mãe. Nunca disse uma palavra na sua vida. Pelo menos, que eusaiba.
- Porque tem ela uma Bíblia debaixo do braço?
- Não sei.
- Ela passa assim os dias, a olhar para o portão?
- Sim. Se calhar, também quer sair daqui. Mas, se calhar, nunca o fez por causa de mim.
- Tu também nunca o fizeste por causa dela.
- Sim.
- Farás algum dia?
- Não sei.
- Quem sabe?
- Deus. Deus sabe tudo.
- Talvez.
- Deus sabe tudo.
- Como sabes? Ele já te falou?
- Talvez.
- Talvez?
- Sim. E a tua mãe? O que faz ela?
- Dança.
Ficaram novamente em silêncio. Roberta olhava-a, pensativa.
- Fazemos assim, Twyla - Fez uma pausa. - Dou-te quinze dólares e arranjas-me o carro.
- Quinze dólares?
- Quinze dólares. Não é suficiente?
- Não.
- É o único dinheiro que tenho.
Twyla olhou para ela, desconfiada.
- Quinze dólares não chega.
Roberta bateu com as mãos na mesa, fazendo o café salpicar.
- Bem, parece que nenhuma de nós vai sair daqui, então.
- Está bem. Aceito os quinze dólares.
Roberta sorriu.
- Afinal, sempre estiveste interessada no carro.
Quando
o Sol se começou a pôr, Twyla conseguiu finalmente ligar a ignição e o
tubo de escape tossiu de maneira rouca um fumo negro.
Roberta, que acabara de pintar o carro de verde, sorriu para Twyla.
Twyla saiu do carro e a mulher velha continuava de pé, no alpendre, de Bíblia debaixo do braço, a olhar para o portão.
- Então, para onde vamos?
- Não sei.
Roberta olhou confusa para Twyla, mas depois sorriu.
- Aceito.
Twyla
voltou a entrar no lado do condutor, enquanto Roberta contornava o
carro, para se sentar no lado oposto, sem olhar para a mãe uma última
vez.
Na estrada, Twyla pisou o acelerador a fundo.
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