Monday, 5 January 2015

Twila e Roberta no Transporte e depois (por Stephanie)

Twyla estremeceu no assento e, na janela, a paisagem começou a mudar. O comboio estava já em movimento e não tardaria até Twyla adormecer. Contudo, pela primeira vez, desde que ia de comboio para o trabalho, manteve-se desperta e decidiu apreciar a paisagem. Desejou sobrevoar toda aquela paisagem e ir ainda mais longe do que o comboio a poderia levar. Interrompendo os seus pensamentos, um carro, no jardim dianteiro de uma casa velha, despertou a sua atenção. Colocou as mãos no vidro da janela, como para não perder o carro de vista. Voltou a endireitar-se no banco e decidiu sair na próxima estação.
Subiu a estrada que dava para a casa e, quando conseguiu voltar a ver o carro, reparou numa mulher velha, de pé no alpendre, de braços cruzados diante do peito, como se já a esperasse. 
Twyla hesitou por um breve momento, mas prosseguiu a marcha. Parou diante do baixo portão de ferro.
- Bom dia - acenou à mulher velha. 
A mulher continuou a olhar para ela, sem proferir uma palavra. 
Uma jovem da sua idade surgiu detrás do carro e encaminhou-se na direcção do portão, para o abrir. 
- Olá - A jovem estendeu-lhe uma mão. - O meu nome é Roberta. E tu, como te chamas?
- Twyla. - Apertou-lhe a mão. 
- Entra, Twyla. Sê bem-vinda. 
Twyla passou para lá do portão, sempre de olhos postos ou no carro ou na mulher velha. 
- Queres beber algo? - perguntou Roberta. 
- Sim, por favor. 
Twyla seguiu Roberta até à casa e, quando passou pela mulher velha, esta continuava a olhar na direcção do portão, com uma enorme Bíblia presa por debaixo do braço. 
A porta de entrada da casa dava directamente para a cozinha, onde se encontrava, no centro, uma pequena mesa de madeira e duas cadeiras. 
Roberta fez um gesto para que Twyla se sentasse e foi preparar café. 
- Conta-me, Twyla - disse Roberta, pousando uma chávena de café na frente de Twyla. - O que te traz por cá?
- Quero viajar. 
Roberta riu-se.
- Estás interessada no carro?
- Eu não disse isso.
- De certeza? Foi isso que percebi.
- Percebeste mal. Não foi isso que eu disse. 
- Então, o que disseste?
- Não quero ficar aqui. 
- Não queres ficar aqui. Porque não? Esta casa tem espaço para mais uma. 
- Não. Eu não quero ficar aqui, em Nova Iorque. 
- Não queres ficar em Nova Iorque. 
- Não. 
- Então queres ficar nesta casa.
- Não.
- Então queres ficar com o carro. 
- Sim. Não!
- Toda a gente quer um carro. Toda a gente quer sair daqui.
- Não sei. 
- Mas sei eu. Eu também quero sair daqui.
- Mas tu não és toda a gente.
- Mas sou alguém. E isso chega. 
Ficaram em silêncio por um momento.
- Quem é aquela mulher? - Twyla apontou para a porta, atrás de si. 
- É a minha mãe. Nunca disse uma palavra na sua vida. Pelo menos, que eusaiba. 
- Porque tem ela uma Bíblia debaixo do braço? 
- Não sei.
- Ela passa assim os dias, a olhar para o portão?
- Sim. Se calhar, também quer sair daqui. Mas, se calhar, nunca o fez por causa de mim. 
- Tu também nunca o fizeste por causa dela. 
- Sim. 
- Farás algum dia?
- Não sei. 
- Quem sabe?
- Deus. Deus sabe tudo.
- Talvez.
- Deus sabe tudo.
- Como sabes? Ele já te falou?
- Talvez.
- Talvez?
- Sim. E a tua mãe? O que faz ela?
- Dança. 
Ficaram novamente em silêncio. Roberta olhava-a, pensativa. 
- Fazemos assim, Twyla - Fez uma pausa. - Dou-te quinze dólares e arranjas-me o carro. 
- Quinze dólares?
- Quinze dólares. Não é suficiente?
- Não.
- É o único dinheiro que tenho. 
Twyla olhou para ela, desconfiada. 
- Quinze dólares não chega. 
Roberta bateu com as mãos na mesa, fazendo o café salpicar.
- Bem, parece que nenhuma de nós vai sair daqui, então.
- Está bem. Aceito os quinze dólares. 
Roberta sorriu.
- Afinal, sempre estiveste interessada no carro.
Quando o Sol se começou a pôr, Twyla conseguiu finalmente ligar a ignição e o tubo de escape tossiu de maneira rouca um fumo negro.
Roberta, que acabara de pintar o carro de verde, sorriu para Twyla. 
Twyla saiu do carro e a mulher velha continuava de pé, no alpendre, de Bíblia debaixo do braço, a olhar para o portão. 
- Então, para onde vamos?
- Não sei.
Roberta olhou confusa para Twyla, mas depois sorriu.
- Aceito.
Twyla voltou a entrar no lado do condutor, enquanto Roberta contornava o carro, para se sentar no lado oposto, sem olhar para a mãe uma última vez. 
Na estrada, Twyla pisou o acelerador a fundo.

No comments:

Post a Comment