Estavam os 4 na
estação à espera do metro. Como é obvio não faziam ideia que naquele dia era
greve. Eram as unicas pessoas à espera e
inevitavelmente olham uns para os outros. Desconhecem que nos dias que correm olhar
para estranhos é perigoso. Corremos o risco de ofender alguém ou de parecermos suspeitos,
embora possam haver excepções. Uma excepção razoável é a insatisfação
partilhada pela falha de um serviço público. Então suspiram, batem pés, e olham
nervosamente uns para os outros. E novamente para o relógio.
4 estranhos numa
estação do metro. Não suspeitam que os observo. Cada um a caminho de um sitio
ainda incerto, cada um perdido num pensamento. E por ser um bom passa-tempo, eu
que também estou à espera do metro, apesar de saber que é dia de greve, fico a
adivinhar quais são os seus pensamentos. Um deles pensa numa viagem épica,
através de estradas e culturas, mentalidades, aventuras, quem é ele e quem são
os outros? Lembra um bocado os descobrimentos ou uma espécie de vá para fora cá
dentro ainda tenho que pensar melhor sobre o assunto. Outro pensa que vai a
caminho de casa, e debate-se por algum tempo tentando lembrar-se onde fica
Casa, talvez na esperança de chegar lá durante a viagem. Outro, num registo mais
macabro, pensa nas pessoas que se atiram
para a linha do metro e no que aconteceria se houvesse quem as apanhasse. E o outro
só quer ir para casa e fazer um bolo.
Quanto a mim,
parece que afinal estive sempre dentro do metro. O metro que não pára, o metro
com carruagens infinitas, o metro que entrou em algum engano espacial e
temporal, o metro que vai estar sempre em andamento mas nunca mais chega. Agora
a sério. Como é que sabemos se estamos em andamento, se quando olhamos pela
janela do metro só vemos preto? Alguém devia pôr umas luzes pelo caminho.
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