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Thursday, 25 September 2014
Tuesday, 23 September 2014
Jack Kerouac: King of the Beats (documentário de 2010)
documentário / entrevistas para ver aqui:
https://indieflix.com/indie-films/jack-kerouac-king-of-the-beats-32206/
https://indieflix.com/indie-films/jack-kerouac-king-of-the-beats-32206/
Friday, 19 September 2014
Wednesday, 17 September 2014
"Footnote to Howl", Allen Ginsberg, 1955
(por qualquer razão desconhecida, não incluída na antologia Norton...)
Footnote to Howl
Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy! Holy!
The world is holy! The soul is holy! The skin is holy! The nose is holy! The tongue and cock and hand and asshole holy!
Everything is holy! everybody’s holy! everywhere is holy! everyday is in eternity! Everyman’s an angel!
The bum’s as holy as the seraphim! the madman is holy as you my soul are holy!
The typewriter is holy the poem is holy the voice is holy the hearers are holy the ecstasy is holy!
Holy Peter holy
Allen holy Solomon holy Lucien holy Kerouac holy Huncke holy Burroughs
holy Cassady holy the unknown buggered and suffering beggars holy the
hideous human angels!
Holy my mother in the insane asylum! Holy the cocks of the grandfathers of Kansas!
Holy the groaning saxophone! Holy the bop apocalypse! Holy the jazzbands marijuana hipsters peace peyote pipes & drums!
Holy the solitudes
of skyscrapers and pavements! Holy the cafeterias filled with the
millions! Holy the mysterious rivers of tears under the streets!
Holy the lone
juggernaut! Holy the vast lamb of the middleclass! Holy the crazy
shepherds of rebellion! Who digs Los Angeles IS Los Angeles!
Holy New York Holy San Francisco Holy Peoria & Seattle Holy Paris Holy Tangiers Holy Moscow Holy Istanbul!
Holy time in
eternity holy eternity in time holy the clocks in space holy the fourth
dimension holy the fifth International holy the Angel in Moloch!
Holy the sea holy
the desert holy the railroad holy the locomotive holy the visions holy
the hallucinations holy the miracles holy the eyeball holy the abyss!
Holy forgiveness! mercy! charity! faith! Holy! Ours! bodies! suffering! magnanimity!
Holy the supernatural extra brilliant intelligent kindness of the soul!
Berkeley 1955
Sunday, 14 September 2014
Monday, 8 September 2014
Pastiche de On the Road e sua memória descritiva (trabalho de Pedro Franco)
Um intersecionismo entre os
E.U.A. dos beat e Lisboa no verão
1. No dia em que voltei
[1]a Lisboa
estavam lá todos: o Carlo, o Chad, a Marylou, o Big Ed Dunkel, Old Bull Lee.
Todos. Menos o Dean, que era o meu melhor amigo. Conheci o Dean pouco tempo
depois da minha namorada e eu nos termos separado. Eu acabara de recuperar de
uma fase grave de que não vou dar-me ao trabalho de falar a não ser que não
teve nada a ver com essa rutura extremamente deprimente e a minha sensação de
que tudo fracassava.
2. Lisboa rebentava
com o calor, com a humidade e com a festa. Com o aroma itinerante de sardinha,
que flutuava de terraço em terraço, com copos e garrafas de cerveja deitados,
jazendo na calçada nervosa. Lisboa rebentava, tinha-se desertificado. Só
sobrava a massa informe dos turistas. Estava-se, na realidade, em Alger.
3. Eu fui ter com o
Carlo à cave do número quatro da Praça da Alegria, pois ele estava muito triste
e queria ter o seu momento benzedrina comigo – todas as semana tínhamos um
momento benzedrina em que éramos totalmente sinceros um com o outro. Mal
sonhava ele que quem estava a morrer era eu, apesar da minha aparência apática,
por causa da minha aparência apática. O Carlo, marxista, sempre quisera fazer
amor comigo mas eu, que sou muito liberal, disse-lhe pago-te uma puta se
quiseres desde que não interfiras no belo intervalo que é o que eu sou do que
tu és, que é a nossa amizade, o intervalo. Eu também o amava. Faltava lá o
Dean, no entanto.
4. Juntos inicámos
o ritual, os sons do Hot Club penetravam as paredes finas e poeirentas da cave,
era aquela dupla que soprava hoje à noite um disorder at the border, Dexter e Wardell[2].
5. Carlo falou-me
de muita coisa mas eu só olhava para os olhos dele e via irrigações de sangue
neuróticas, existencialistas. Uma não-alma. Dos seus olhos vi-me e eu não era
louco, afinal de contas. Era só carne e osso, cheirava a cevada, o meu hálito
era nojento. Ou se calhar era a benzedrina.
6. Para afastar as
alucinações acendi um cigarro e enrosquei-me na ideia de que queria voltar às
Montanhas Rochosas[3]. Ou pelo menos
à Arrábida. Enfim, fazer vida de festa ou de monge, desde que se pudesse fumar.
[1]
Orig.”cheguei”
Este pastiche foi realizado após a primeira leitura que fiz de On the Road. Trata-se de um registo das
impressões mais fortes da leitura realizadas através do intersecionismo entre
os E.U.A. dos escritores da geração beat
e Lisboa no verão. Em consequência da utilização do processo pessoano teremos:
Ø digressões entre o universo do eu-narrador deste exercício e o do
narrador de On the Road e por vezes
do da vida do seu autor
Ø confusões e sobreposições, traindo qualquer possibilidade de uma espécie
de continuação ou interpretação da narrativa na qual se
baseia este exercício.
Baseia-se
especialmente nos capítulos 6-10 da parte 1, ou seja a estadia de Sal Paradise
em Denver.
As impressões que tentei
plasmar são aquelas que concernem [por parágrafo]:
1.
o incipit – as razões que levam Sal a
ir e voltar constantemente;
2.
o ambiente árido e vadio de Denver,
transposto para Lisboa no verão;
3.
as relações ambíguas e o sentido de camaradagem; o confronto do conservadorismo
de Sal / Kerouac com o libertinismo dos outros membros da geração beat; a dificuldade em expressar os
“reverent mad feelings” [preocupação essencialmente artística];
4.
o jazz e a sua peculiaridade no imaginário americano;
5.
uma aproximação ao existencialismo;
6.
a noção de beatífico.
Propus-me
a captar um fragmento estático entre o vir
e o ir recorrentes em On the Road – “no dia em que voltei”,
“queria voltar” [ir]. A repetição do verbo “voltar” sugere a ausência da
estrada no seu sentido concreto. Outra ausência flagrante é a de Dean Moriarty
/ Neal Cassady. Esta é sobretudo um recurso para o passo 3, explicado mais
abaixo.
Estilisticamente adotei por
vezes a parataxe (discurso direto livre no passo 3 ou “apesar da minha apatia,
por causa da minha apatia”), o anacoluto (idem) e a aliteração (“disorder at
the border, Dexter e Wallder”).
Segue-se então à
análise de cada parágrafo, ou passo, deste texto:
No primeiro parágrafo parafraseei o incipit de On the Road
numa tradução livre para situar o imaginário gerador da nova narrativa nos seus
novos tempos e espaços. A alteração de certos termos (“illness”, “fase”;
“wife”, “namorada”) estabelece as diferenças entre o eu-narrador e o
narrador-autor; introduz também o conceito de pastiche, não inteiramente fiel. No
segundo passo descrevi Lisboa no
verão. Tentei estabelecer um paralelismo entre Lisboa e a Denver de On the Road, ao criar um rasto de
elementos locais por onde as personagens pudessem ter passado (o rasto da sardinha
[“ice cream and apple pie”], a cerveja); ao recriar uma certa vadiagem (os copos e garrafas no chão) e
aridez (o calor, a desertificação); ao repor, mesmo, certos atributos
localizados na obra trabalhada (“a massa informe dos turistas” no texto escrito
corresponde a uma passagem [pp 46, Penguin] da viagem a Central City: “narrow
streets choke full of chichi tourists”). Saliento também o último período deste
parágrafo – “Estava-se, na realidade, em Alger”. Alger aparece como a Alger d’O
Estrangeiro de Camus (esta relação será estabelecida mais abaixo.). Algiers
é também o nome da localidade pantanosa do Louisiana onde vivia Old Bull Lee
[Borroughs] com a sua mulher, e Ginsberg, passou pelo Norte de África (como se
pode inferir das suas cartas). Esta coincidência pode-nos servir de portal para
o parágrafo seguinte, no qual Carlo Marx é introduzido.
No terceiro passo, o trio das personagens principais, “the old
threesome of Carlo, Dean and Sal” [pp. 29, Penguin], é posto em causa pela
referida ausência do segundo – é uma variante do
episódio em que
os três se reúnem na cave de Carlo e Sal assiste à discussão entre os dois
acesa pela benzedrina [pp. 43-45, Penguin]. Trata-se de um processo de
desdobramento de personagens. A ausência de Dean resulta na canalização
do desejo de confidência e do desejo sexual em direção ao narrador
autodiegético. A tensão provocada evidencia o confronto do conservadorismo de Sal / Kerouac com o resto das personagens. Este
confronto de ideologias, aliás modos de vida, é, a meu ver, um dos aspetos mais
importantes da obra de Kerouac e merece ser destacado porque é uma das grandes
linhas de força de On the Road.
Outro efeito que pretendia concretizar com a ausência de Dean era a
intensificação da sua importância para o desenvolvimento da narrativa e a sua
interpretação. O silêncio desta personagem dá a impressão de que, “faltando lá
o Dean”, algo não se concretiza. É ainda nesse sentido que a sua ausência
acentua o sentido de camaradagem, também este um tópico relevante em On the Road. A aparente contradição
“apesar da minha apatia, por causa da minha apatia” justifica-se pela conotação
aqui explorada da palavra, sendo que a aparência apática por um lado não
transparece a ansiedade (“quem estava a morrer era eu”) e, por outro, a apatia
mental é geradora de incapacidade de sentir e, consequentemente, da inércia
produtiva. A respeito da incapacidade de sentir, esta é bastante evidente ao
longo do romance de Kerouac ao reconhecer em Dean o aldrabão (“conman”) e ainda
assim ver nele “the secret that we're all busting to find out” [parte três]. A
respeito (do sentimento de) inércia produtiva, Ann Charters nota no prefácio à
edição da Penguin que Kerouac, após escrever a primeira parte de On the Road (e, portanto, após
ter vivido essas mesmas experiências captadas) sentia uma “emptiness and even falseness”.
O quarto parágrafo é onde mais se destaca a parataxe e portanto é a
passagem que estilisticamente mais se identifica com o Kerouac de On the Road. Para além da sua função
estilística, tem uma função sensitiva (auditiva) e de contextualização cultural.
O topos do jazz é das impressões mais fortes que se pode receber delas.
Recorri aos nomes citados por Kerouac na sua obra – entre outros, Dexter Gordon
e Wallder Gray. Por serem tão característicos de um tempo e de um espaço (sul,
Memphis), ao contrário de nomes como Miles Davis ou Charlie Parker (que a tanto
mais se podem associar), seria a opção mais acertada. A passagem no fim do
parágrafo que contém a aliteração com ritmos de bebop (“disorder at the border, Dexter e Wallder”) confere a
musicalidade sugerida e alude à confusão até agora gerada pela fusão de
horizontes (Portugal / E.U.A., Sal / eu-narrador).
No quinto parágrafo são feitas associações problemáticas como
“irrigações de sangue […] existencialistas” ou “não-alma”. Atribuí portanto um carácter
existencialista ao universo de On the
Road, mais precisamente, no texto, a Carlo Marx (por extensão ao modo de
vida desta geração). Esse carácter existencialista é visível, julgo, numa das
citações mais simbólicas do romance de Kerouac, onde o narrador terá negado a
natureza humana – “I was just somebody
else, some stranger, and my whole life was a haunted life, the life of a ghost”.
[pp 15-16, Penguin] Isto aproxima-nos muito do pensamento de Sartre (L’Existencialisme
est un Humanisme). Negando a natureza humana põem-se várias hipóteses como
conduta na vida, tendo em conta que “estamos condenados a ser livres” (ibidem).
E, além disso, “a existência precede e governa a essência” (ibidem). Estas duas
ideias fulcrais do existencialismo querem dizer, de um modo simplista e muito
redutor, que as ações de um Homem talham o seu carácter – a liberdade e a
responsabilidade do Homem são uma realidade nesta corrente filosófica. Do meu
ponto de vista, é possível relacionar a história de Sal Paradise e a vida e
obra de Jack Kerouac com as ideias de Camus, segundo as quais “a fraternidade é
a única resposta ao absurdo” (camaradagem na obra). Tendo em conta que Camus
seguiu durante muito tempo princípios católicos, pelo menos em grande parte da
sua vida, e que terá o influenciado o seu pensamento filosófico, podemos estabelecer
a ponte com a noção de beatífico.
Esta é a noção que encontramos no sexto
parágrafo, alicerce e finalidade da experiência beat. Cristaliza-se na escolha toponímica da Arrábida – serra dos
monges, local de oração (al-rabit).
Finalmente, o verdadeiro dilema de Kerouac entre a vida com os amigos / boémia
/ móvel e a vida familiar / religiosa / estável, no fim deste exercício de pastiche, encontra uma só condição: a condição de se poder fumar.
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