Friday 2 January 2015

Kerouac, Bishop, Plath e McCarthy (por Inês Furtado)


Estavam os 4 na estação à espera do metro. Como é obvio não faziam ideia que naquele dia era greve. Eram as unicas pessoas à espera  e inevitavelmente olham uns para os outros. Desconhecem que nos dias que correm olhar para estranhos é perigoso. Corremos o risco de ofender alguém ou de parecermos suspeitos, embora possam haver excepções. Uma excepção razoável é a insatisfação partilhada pela falha de um serviço público. Então suspiram, batem pés, e olham nervosamente uns para os outros. E novamente para o relógio.
4 estranhos numa estação do metro. Não suspeitam que os observo. Cada um a caminho de um sitio ainda incerto, cada um perdido num pensamento. E por ser um bom passa-tempo, eu que também estou à espera do metro, apesar de saber que é dia de greve, fico a adivinhar quais são os seus pensamentos. Um deles pensa numa viagem épica, através de estradas e culturas, mentalidades, aventuras, quem é ele e quem são os outros? Lembra um bocado os descobrimentos ou uma espécie de vá para fora cá dentro ainda tenho que pensar melhor sobre o assunto. Outro pensa que vai a caminho de casa, e debate-se por algum tempo tentando lembrar-se onde fica Casa, talvez na esperança de chegar lá durante a viagem. Outro, num registo mais macabro,  pensa nas pessoas que se atiram para a linha do metro e no que aconteceria se houvesse quem as apanhasse. E o outro só quer ir para casa e fazer um bolo.
Quanto a mim, parece que afinal estive sempre dentro do metro. O metro que não pára, o metro com carruagens infinitas, o metro que entrou em algum engano espacial e temporal, o metro que vai estar sempre em andamento mas nunca mais chega. Agora a sério. Como é que sabemos se estamos em andamento, se quando olhamos pela janela do metro só vemos preto? Alguém devia pôr umas luzes pelo caminho.

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